Guia da Conference 2022/23: 15 histórias interessantes para acompanhar na fase de grupos

Resumo

Prato cheio de alternatividade entre as copas europeias, a Conference traz uma série de azarões e também clubes tradicionais em busca da taça

A Conference League precisou de apenas uma temporada para cair no gosto de muita gente. A Uefa acertou ao reduzir a Liga Europa e criar um torneio próprio aos times dos mais diferentes rincões do continente. A diversidade é o que impera, com países como Gibraltar, Estônia e Armênia ganhando um lugar ao sol na primeira edição. Não é diferente dessa vez, agora com as estreias de Liechtenstein, Lituânia e Kosovo. Nada menos que 28 nações estarão representadas nessa fase de grupos, com no máximo dois participantes por país. Não há diferença de quantidade entre as grandes ligas e os campeonatos secundários, ainda que a chance fique posta a quem abraçar a competição – como foi o bonito caso da Roma, num título que valorizou mais o certame.

A alternatividade continua presente na segunda edição da Conference. Obviamente, os representantes das cinco grandes ligas são os mais cotados na fase de grupos. Todavia, times de todos os cantos poderão competir e apresentar suas credenciais numa copa essencialmente nivelada. E os mata-matas oferecem bons jogos, como bem se viu em 2021/22, ainda mais com a adição de outras forças repescadas da Liga Europa. Abaixo, preparamos o nosso guia de destaques da Conference. Contamos algumas histórias para ficar de olho, enfatizando favoritos e também azarões, além de análises mais voltadas ao mapa representado pelo torneio.

Grupo A: Istambul Basaksehir, Fiorentina, Hearts, RFS Riga
Grupo B: West Ham, FCSB, Anderlecht, Silkeborg
Grupo C: Villarreal, Hapoel Be’er Sheva, Austria Viena, Lech Poznan
Grupo D: Partizan, Colônia, Nice, Slovácko
Grupo E: AZ, Apollon Limassol, Vaduz, Dnipro-1
Grupo F: Gent, Molde, Shamrock Rovers, Djurgardens
Grupo G: Slavia Praga, Cluj, Sivasspor, Ballkani
Grupo H: Basel, Slovan Bratislava, Zalgiris, Pyunik

– Vaduz, estreante de Liechtenstein

Liechtenstein certamente não estava bem cotado na lista de países a estrearem nas copas europeias durante os próximos anos. O principado conta com apenas um representante por temporada, o campeão da copa nacional, já que os clubes são absorvidos pela liga da Suíça. Pois o Vaduz, grande potência local, conseguiu o milagre enquanto tenta escapar do rebaixamento na segundona suíça. Os alvirrubros possuem algumas vitórias internacionais expressivas nas últimas décadas, mas nada comparado ao que fizeram dessa vez. Passaram por Koper, antes de desbancar o Konyaspor na Turquia. Já na fase decisiva, contra o tradicional Rapid Viena, comemoraram na Áustria. É um país de 36 mil habitantes na fase de grupos. O comando técnico é do suíço Alessandro Mangiarratti, de apenas 43 anos. Já em campo, o time conta com destaques da seleção local, como o meia Nicolas Hassler e o goleiro Benjamin Büchel. Camisa 10 e ídolo, Tunahan Cicek arrebentou na caminhada memorável pelas preliminares.

– Ballkani, estreante de Kosovo

Outro país de pouca expressão no cenário continental que estreará em fase de grupos é Kosovo. No caso dos balcânicos, surpreende mais pela falta de experiência, com os times locais ingressando nos torneios da Uefa em 2017/18. O Ballkani, atual campeão nacional, fazia sua primeira temporada além das fronteiras e já conseguiu registrar a façanha. Diferentemente do Vaduz, a equipe tinha um atalho à sua disposição e avançou na Rota dos Campeões. Os desafios foram modestos contra La Fiorita, KÍ e Shkupi. De qualquer maneira, foram cinco vitórias nos seis compromissos, que credenciam a equipe como principal força entre esses pequenos. O Ballkani vem de uma cidade de 60 mil habitantes, mas precisará mandar seus jogos na capital Pristina. O técnico Ilir Daja já tinha levado o Skënderbeu Korçe à fase de grupos da Liga Europa. Já o destaque na temporada é o centroavante Albion Rrahmani, autor de oito gols em dez partidas. O elenco conta com um brasileiro, o atacante Lucas Cardoso, que defendeu clubes como o Rio Branco do Acre e o Taguatinga.

– Zalgiris Vilnius, estreante da Lituânia

A Lituânia é mais um país a se meter pela primeira vez na fase de grupos de uma copa europeia. O Zalgiris Vilnius, entretanto, carrega uma tradição desde os tempos do Campeonato Soviético. Chegou a disputar duas edições da Copa da Uefa na década de 1980, quando brigava pelas cabeças na liga nacional. Após a independência, o Zalgiris zanzou muito nas preliminares, mas já vinha dando sinais de crescimento com algumas boas campanhas recentes. O feito se consuma desta vez com auxílio do sistema de repescagem da Champions. Os lituanos foram uma sensação na competição principal, ao eliminarem Ballkani e Malmö. Foram derrotados por Bodo/Glimt e depois por Ludogorets na Liga Europa, mas a Rota dos Campeões valeu o atalho na Conference. O técnico cazaque Vladimir Cheburin tem experiência além das fronteiras, com clubes como o Suduva e o Shakhter Karaganda. Em campo, uma das grandes figuras é o atacante Renan Oliveira, formado pelo EC São Bernardo. O camisa 10 é o artilheiro do Campeonato Lituano, liderado pelo Zalgiris. O time também reúne figuras da seleção local, como o lateral Saulius Mikoliunas e o meia Donatas Kazlauskas, além do veterano Mantas Kuklys.

– RFS Riga recoloca a Letônia no mapa

A Conference League se tornou uma porta aberta aos países bálticos nas copas europeias. Se o Flora Tallinn foi o pioneiro da Estônia na temporada passada e o Zalgiris Vilnius faz o mesmo com a Lituânia, a Letônia consegue encerrar um hiato de 13 temporadas nas fases de grupos, desde que o Ventspils disputou a Liga Europa em 2009/10. A honraria da vez é do RFS Riga, clube da capital fundado em 2011 e que começou a brigar pelas cabeças no país durante as últimas temporadas. Campeão nacional em 2021, foi mais um beneficiado pela Rota dos Campeões. Caiu para o HJK Helsinque na Champions, mas superou Hibernians e Linfield nas preliminares da Conference. O técnico Viktors Morozs está no comando desde 2020 e foi jogador da seleção. O elenco se pauta em letões na defesa e muitos estrangeiros do meio para frente. Inclusive há dois brasileiros no ataque, Emerson Deocleciano (ex-Vila Nova) e Bill (formado na base do Flamengo). Entre os destaques estão jogadores da seleção local, como o goleiro Pavels Steinbors, enquanto Andrej Ilic e Kevin Friesenbichler formam uma trinca efetiva no ataque ao lado de Emerson Deocleciano.

– A presença massiva da Cortina de Ferro

O mapa da Champions League se concentra cada vez mais na Europa Ocidental. O mesmo acontece na Liga Europa, numa intensidade menor, mas com influência clara da mudança recente de formato. O terreno fértil dos times a leste é a Conference. Nesta edição, serão 12 participantes de países da antiga Cortina de Ferro. Além de RFS e Zalgiris, os ex-soviéticos ainda contarão com Dnipro-1 e Pyunik Yerevan. Os ucranianos tentarão superar as limitações da guerra em sua estreia nas competições continentais, com investimentos recentes numa cidade que tinha o extinto Dnipro como força. Max Walef, Busanello e Wesley Braga são os brasileiros da equipe, que ainda tem Artem Dovbyk, destaque da seleção local na Eurocopa. Já o Pyunik, com título soviético em seu passado, se reconstrói nos últimos anos e fez uma campanha excelente nas preliminares da Champions, com o acesso através da Rota dos Campeões. Será a segunda vez da Armênia numa fase de grupos, após a estreia do Alashkert na temporada passada. Alguns jogadores rodados em seleções estão presentes, como o armênio Aras Özbiliz, o venezuelano Alexander González e o macedônio Stefan Spirovski.

As melhores chances do Leste Europeu na Conference, de qualquer forma, se espalham pela Europa Central. Há clubes muito tradicionais na disputa. O Slavia Praga é sempre um candidato, com os bons papéis recentes, incluindo a caminhada até as quartas na edição passada. Jiri Trpisovsky vai completar cinco anos na casamata, com bons jogadores da seleção local e de países africanos. Slovácko é outro representante tcheco, reunindo veteranos da seleção, enquanto o Slovan Bratislava fez bom papel na vizinha Eslováquia, sob as ordens do técnico Vladimir Weiss e o talento do capitão (e filho) Vladimir Weiss. A Sérvia conta com a presença do Partizan Belgrado, que avançou aos mata-matas na última edição e inspira respeito, com as estrelas de Ricardo Gomes e Bibras Natcho. A Polônia teve bons resultados com o Lech Poznan, mesmo sem resistir nas preliminares da Champions. Já a Romênia, embora cambaleante em certos momentos, terá dois representantes com o FCSB (o antigo Steaua Bucareste) e o Cluj.

– Bélgica e Países Baixos se candidatam a conference league

Uma região com boas credenciais na conference league é a de Benelux. Países Baixos vêm de boas campanhas continentais, vide o Feyenoord na temporada passada. O Twente não conseguiu alcançar a fase de grupos, mas o AZ é um concorrente forte pelos mata-matas. Começou bem a Eredivisie e atropelou nas preliminares da Conference, sobretudo Dundee United e Gil Vicente. Pascal Jansen dirige uma equipe talentosa, com atenção ao atacante Vangelis Pavlidis. Já a Bélgica pode não ter a força dos vizinhos, mas os clubes do país ganham relevância e investimento nos últimos anos. Serão dois representantes. O Gent não foi bem contra o Omonia Nicósia na Liga Europa, mas chega à Conference turbinado pelos reforços de Jens Petter Hauge e Jordan Torunarigha. Já o Anderlecht trouxe o técnico Felice Mazzù, que fez sucesso na Union St. Gilloise. Foi um mercado renomado dos violetas, com as adições de Jan Vertonghen, Amadou Diawara, Fábio Silva e Sebastiano Esposito.

– Tradicionais da Europa Ocidental

Sem espaço na Champions ou na Liga Europa, muitos clubes tradicionais de ligas secundárias da Europa Ocidental acabam fisgando uma vaguinha na conference league. Uma história interessante a se acompanhar é a do Hearts, que passou recentemente pela segunda divisão, mas volta a representar a Escócia numa fase de grupos depois de 18 anos. O técnico Kent Nielsen possui experiência nos grandes do país. Os grenás vieram das preliminares da Liga Europa e têm uma coleção de medalhões, sobretudo o goleiro Craig Gordon, acompanhado também por Robert Snodgrass e Liam Boyce. Podem surfar no efeito positivo de Celtic e Rangers. Outro time das ilhas a disputar a Conference é o Shamrock Rovers, que volta à fase de grupos após 11 anos. Os irlandeses também lideram sua liga nacional, com vantagem de quatro pontos a sete rodadas do fim.

Indo mais ao centro do mapa da Europa continental, o Basel não vive seus melhores tempos, mas fez grandes campanhas além das fronteiras na última década. Algoz de Brondby e CSKA Sofia nas preliminares da Conference, o time começou mal o Campeonato Suíço, com apenas uma vitória em sete rodadas. Mas tem recursos para crescer, com o técnico Alexander Frei à frente do projeto. O mercado foi bastante movimentado e garantiu reforços como Dan Ndoye, Riccardo Calafiori, Andi Zeqiri e Marwin Hitz. Também estão presentes veteranos conhecidos, como Michael Lang, Fabian Frei, Taulant Xhaka e Ádám Szalai. No país vizinho, quem compete é o Austria Viena, mesmo passando por delicados momentos financeiros recentemente e sentindo o impacto na Bundesliga. Os violetas são dirigidos por Manfred Schmid, de experiência em clubes da Alemanha como assistente e diretor, incluindo Borussia Dortmund e Colônia. O jovem Matthias Braunöder chama atenção.

– As chances dos escandinavos na conference league

A Escandinávia aproveitou a brecha da conference league e deixou boa impressão na temporada passada, com Bodo/Glimt e Copenhague fazendo campanhas longas. Desta vez serão três representantes da região. As maiores expectativas ficam para o Djurgardens, que, mesmo sendo o quarto clube sueco com mais participações continentais (inclusive na edição inaugural da Copa dos Campeões), vai disputar sua primeira fase de grupos só agora. A equipe briga pelo título na reta final do atual Campeonato Sueco e conta com jogadores da seleção local, como Pierre Bengtsson e Marcus Danielson. Na mesma chave está o Molde, disposto a emular o Bodo/Glimt. Os alviazuis têm tudo para ficar com o título do Campeonato Norueguês, com dez pontos de vantagem a nove rodadas do fim. O capitão Magnus Wolff Eikrem é uma das referências técnicas. A Dinamarca ainda traz o Silkeborg, de menos tradição. É outro estreante em fases de grupos, repescado da Liga Europa. O técnico Kent Nielsen possui experiência nos grandes do país.

– A boa temporada de Israel e Chipre coroam presença na conference league

Os pontos nas competições secundárias contam muito no Ranking da Uefa, especialmente a equipes de segundo ou terceiro escalão. Boas campanhas significam mais vagas continentais e inclusive lugares diretamente na fase de grupos. Israel e Chipre são dois países que somam pontos nesta temporada. Os israelenses contam com o Maccabi Haifa na Champions, enquanto AEK Larnaca e Omonia Nicósia são os cipriotas na Liga Europa. Os dois países também terão equipes na Conference. O Hapoel Be’er Sheva jogará fases de grupos pela quarta vez em sete anos, as três anteriores na Liga Europa. Os alvirrubros contam com os rodados Tomer Hemed e Itay Shechter em seu ataque. Já o Apollon, costumeiro na Liga Europa na última década, volta a uma fase de grupos da conference league após quatro anos. O técnico é o espanhol David Català, de passagem recente pelo AEK Larnaca.

– A Turquia precisa de pontos no ranking

Se por um lado há quem pegue o elevador, outros países despencam no ranking. A Turquia não jogará a fase de grupos da Champions League, mas colocou pelo menos dois times na Liga Europa, Trabzonspor e Fenerbahçe. Também serão dois representantes na Conference, com Istambul Basaksehir e Sivasspor tentando melhorar a pontuação do país. O Basaksehir tem as melhores condições, num início de temporada invicto, após eliminar o Royal Antuérpia na Conference. O técnico é o ex-meia Emre Belözoglu, que ainda depende de sua licença como treinador. Já o elenco traz alguns dos conhecidos medalhões, desta vez com a estrela de Mesut Özil. Volkan Babacan, Lucas Biglia, Júnior Caiçara, Stefano Okaka e Bertrand Traoré são outros presentes. O Sivasspor vem repescado da Liga Europa e aumenta sua frequência nos torneios continentais nos últimos anos. Muitos figurões de seleções africanas estão no time, entre eles Ahmed Musa, Max Gradel, Clinton N’Jie e Mustapha Yatabaré.

– O Villarreal entra como favorito

A Espanha não teve representantes na primeira edição da Conference League por causa do Villarreal, que conquistou a Liga Europa e acabou pinçado à Champions. O Submarino Amarelo corrige esse desvio e chega na condição de principal favorito dentro da fase de grupos. O time de Unai Emery, afinal, emendou duas campanhas continentais espetaculares. Não consegue a mesma regularidade em La Liga, mas provou que o copeirismo corre em suas veias. A qualidade do treinador já serve como diferencial no Estádio de La Cerámica. Já em campo há uma coleção de jogadores de alto calibre, com destaques preservados na janela. É uma espinha dorsal de muito respeito como Pau Torres, Dani Parejo, Giovani Lo Celso e Gerard Moreno. Vale ficar de olho em Yéremy Pino, cada vez mais acostumado ao protagonismo. O Villarreal permanece invicto na temporada, com três vitórias em quatro rodadas de La Liga, além da classificação contundente sobre o Hajduk Split na preliminar da Conference.

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– West Ham e um interesse maior da Inglaterra

Os clubes ingleses não costumam empolgar muito nas competições continentais secundárias. Os representantes do Big Six levam suas participações com a barriga e os demais times dificilmente apresentam seu melhor. O West Ham mostrou que pode ser diferente na temporada passada. O clube londrino possui sua história nas copas europeias e a torcida abraçou esse legado. Deu para chegar na semifinal da Liga Europa, sem prejudicar o rendimento na Premier League. A Conference está um degrau abaixo, mas a mesma seriedade deve ser esperada dos Hammers, ainda mais quando a campanha no Campeonato Inglês não começa tão bem. David Moyes vai completar seu terceiro ano no comando e o mercado garantiu opções ao elenco. Nayef Aguerd, Thilo Kehrer, Lucas Paquetá, Maxwel Cornet, Emerson Palmieri e Gianluca Scamacca ampliam consideravelmente o leque de alternativas. Juntam-se a um plantel que já era bom com as presenças de figuras como Declan Rice, Tomas Soucek, Jarrod Bowen, Michail Antonio e ainda outros.

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– Uma Fiorentina em ascensão na conference league

A Fiorentina foi uma grata surpresa na última edição da Serie A. A Viola aumentou seu investimento nos últimos anos, mas reforços tarimbados não vinham dando necessariamente resultado. A equipe engrenou após trazer o técnico Vincenzo Italiano, de ótimo trabalho no Spezia e que conseguiu dar uma identidade ofensiva. Assim, os violetas retornam às competições continentais depois de cinco anos, com um passado além das fronteiras a se honrar. Italiano permanece no cargo e as perdas no mercado de transferências foram bem repostas, preservando o nível do time. As novidades incluem Dodô, Rolando Mandragora, Antonin Barak, Luka Jovic e Pierluigi Gollini. Juntam-se a outros destaques como Nikola Milenkovic, Cristiano Biraghi, Gaetano Castrovilli, Giacomo Bonaventura, Nico González e Jonathan Ikoné. Arthur Cabral tenta se estabelecer e tem uma boa chance na Conference que conhece tão bem. Foi no torneio continental, aliás, o melhor momento desse início de temporada. A Fiorentina sobreviveu a um duro duelo contra o Twente, enquanto ainda não embalou no Calcio.

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